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Artigo publicado

Título: O discurso e o acontecimento no ensino de filosofia: apontamentos sobre a noção de escrita de si

Resumo

O objetivo deste texto é refletir sobre o ensino de filosofia no ensino médio, problematizando um certo uso do discurso representacional como um modo de produção de relações de assujeitamento e buscando pensar o discurso como liberação por meio da atitude de coabitar problemas. Esse diagnóstico apoia-se em um trabalho de revisão bibliográfica percorrendo os conceitos foucaultianos de cuidado de si e escrita de si, bem como, das ideias de Pierre Hadot sobre a filosofia antiga. O percurso descritivo deste trabalho parte inicialmente da problematização do discurso filosófico como diagnóstico de dois modos de fazer filosofia: um que é o discurso representacional e o outro, que é de uma filosofia como coabitação de problemas. Em seguida, desenvolvemos a noção da escrita de si como modo de tensionar a relação consigo, com os outros e com o mundo, o que contribui para pensar a filosofia como um exercício de si, ou seja, como uma atitude de inquietação, que faz da formação filosófica uma problematização das práticas cotidianas como forma de atenção ao presente e uma relação menos abstrata no ensino. Enfim, concluímos que pensar a escrita filosófica enquanto problematização de si constitui-se em um modo de liberar o indivíduo do assujeitamento produzido pelos processos de uma escrita reprodutora e, então, abrir-se para o encontro com o inusitado, com o estranho, com aquilo que nos desassossega e nos provoca a mudança.

Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/69936

Autorores

Daniel Salésio Vandresen, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Paraná

Professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Coronel Vivida, Paraná, Brasil. Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). E-mail: daniel.vandresen@ifpr.edu.br. Endereço: Rua Lago das Brisas, n. 101, Bairro Bela Vista, Coronel Vivida/Paraná/Brasil. CEP: 85550-000.

Rodrigo Pelloso Gelamo, Universidade Paulista

Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Marília, São Paulo, Brasil. Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Marília. E-mail: rodrigo.gelamo@unesp.br Endereço: Av. Hygino Muzzi Filho, 737 – Mirante – Marília/SP – CEP 17.525-900

Livro publicado

Venho divulgar a publicação de minha tese em formato de livro.

Publicado pelas editoras: Oficina Universitária/Marília; Cultura Acadêmica/São Paulo (apoio da Capes).

Disponível em:

https://ebooks.marilia.unesp.br/index.php/lab_editorial/catalog/book/233

https://www.academia.edu/45652908/O_ensino_de_filosofia_no_ensino_m%C3%A9dio_t%C3%A9cnico_o_exerc%C3%ADcio_de_si_como_modo_de_vida_filos%C3%B3fica?email_work_card=title

O ENSINO DE FILOSOFIA E A ESCRITA DE SI: o uso da redação de cartas filosóficas no Ensino Médio técnico

Artigo publicado na Revista Eleuthería (UFMS), em parceria com alunos do IFPR/Campus Coronel Vivida.

Resumo: O presente trabalho é uma apresentação dos resultados em pesquisa de iniciação científica no Programa PIBIC-Jr/2019 (IFPR/CNPq), no qual nos propomos a investigar o uso da escrita filosófica como uma técnica de ensino no componente de filosofia nos primeiros anos dos cursos Técnicos Integrado ao Ensino Médio no Instituto Federal do Paraná, Campus Avançado Coronel Vivida. A fundamentação teórica parte das leituras de Agamben, Sloterdijk e Foucault para descrever suas contribuições para o entendimento de um novo uso da técnica. E a partir da perspectiva foucaultiana, aprofundamos a noção de escrita de si para pensar a formação como uma experiência agonística, ou seja, como uma atitude de inquietação que faz da escrita filosófica uma problematizadora das práticas cotidianas como forma de atenção ao presente e uma relação menos abstrata no ensino-aprendizagem. A metodologia dessa pesquisa compõe-se de um estudo teórico por meio de revisão bibliográfica e uma investigação prática por meio da análise das cartas filosóficas escritas pelas duas turmas ingressantes no ano de 2019. A análise dos dados das cartas filosóficas evidencia que a escrita potencializa a problematização de si, contribuindo para a formação de um modo de pensar atento ao que nos acontece no presente.

Fonte: VANDRESEN, D. S.; HOLTZ, I. S. ; COLLA, R. A. . O ENSINO DE FILOSOFIA E A ESCRITA DE SI: o uso da redação de cartas filosóficas no Ensino Médio técnico. Eleuthería, v. 5, p. 91-105, 2020.

MICHEL FOUCAULT E O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO TÉCNICO: O COABITAR PROBLEMAS COMO UM EXERCÍCIO DE SI

Capítulo publicado

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo tematizar o ensino de filosofia no Ensino Médio, descrevendo a filosofia como um exercício de si que se realiza por diferentes práticas. Tendo como referência teórica a filosofia de Michel Foucault, o texto se desenvolve em dois momentos: primeiro, descrevemos sobre o ensino de filosofia no ensino médio técnico e depois, apresentamos a interpretação da filosofia como um modo de coabitar problemas. Nosso objetivo inicialmente é apresentar um diagnóstico do uso técnico do ensino de filosofia na educação tecnológica, isto porque, a filosofia torna-se um procedimento técnico quando busca o reconhecimento de si na produção da verdade e transmissão do conteúdo abstrato, prática que conduz ao empobrecimento da experiência de si. Em seguida, defendemos a atitude de coabitar problemas como modo de praticar a filosofia e combater um ensino que tradicionalmente se conduz de modo mecânico por meio de discursos retóricos e escritas reprodutoras sem vinculação com a vida. Enfim, como forma de coabitar o ensino de filosofia por meio de outras práticas, para além da obrigação discursiva que caracteriza nossa tradição filosófica, analisamos a prática do silêncio como um instrumento problematizador do presente e potencializador de novos modos de existir.

Fonte:

VANDRESEN, D. S. MICHEL FOUCAULT E O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO TÉCNICO: O COABITAR PROBLEMAS COMO UM EXERCÍCIO DE SI. In: Reflexão sobre temas e questões em áreas afins à filosofia Organizadores Marcelo Máximo Purificação, Eleno Marques de
Araújo, Elisângela Maura Catarino. Ponta Grossa, PR: Atena, 2020, p. 66-67.

Disponível em: https://www.atenaeditora.com.br/post-artigo/39509

O ensino de filosofia no ensino médio técnico: o exercício de si como modo de vida filosófica

Conforme Platão expressou na Carta VII a atividade filosófica se constitui em coabitar um “longo caminho” pela “via rude dos exercícios e práticas” (FOUCAULT, 2010, p. 224).

Depois de percorrer um desses longos caminhos, venho compartilhar minha tese “O ensino de filosofia no ensino médio técnico: o exercício de si como modo de vida filosófica”.

Publicada em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/180960

 

Educação e Tecnologias

No texto As Tecnologias do Eu (1983) Foucault apresenta quatro tipos de técnicas/tecnologias que são base para a formação das racionalidades práticas:

 

[…] estas técnicas podem ser divididas em quatro grupos, cada uma das quais é uma matriz da razão prática: 1) as técnicas de produção pelo qual podemos produzir, transformar e manipular objetos; 2) os sistemas técnicos de signos, que permitem o uso de signos, os significados, os símbolos ou as significações; 3) as técnicas de poder, que determinam a conduta dos indivíduos, para submetê-los a determinados fins ou dominação, objetivando enquanto sujeito; 4) as técnicas do eu, que permitem aos indivíduos realizar, sozinho ou com a ajuda de outros, um certo número de operações sobre seus corpos e almas, pensamentos, conduta, seu modo de ser, para transformar a fim de atingir um estado de felicidade, pureza, sabedoria, perfeição ou imortalidade (FOUCAULT, 1994, p. 785, tradução nossa).

 

Para o autor, as três primeiras formas já estão presentes nas proposições de Habermas, mas que seu trabalho consistia em mostrar outro tipo de técnicas: as técnicas de si. Sendo que investigar a interação destas técnicas de si com as técnicas de dominação permitem analisar a genealogia do sujeito na civilização ocidental. Desde modo, compreende que essas técnicas/tecnologias funcionam como racionalidades que governam o modo como conduzimos nossa vida.

A relação destas tecnologias com a educação também é mencionada pelo autor. Cada uma destas tecnologias atua modificando a conduta do indivíduo por meio de práticas educacionais que visam adquirir um conjunto de habilidades e também de comportamentos. Assim afirma: “Cada tipo implica certos modos de educação e transformação dos indivíduos, na medida em que não é apenas, evidentemente, para a aquisição de certas habilidades, mas também adquirir certas atitudes” (FOUCAULT, 1994, p. 785, tradução nossa).

Enfim, a pesquisa que desenvolverei este ano visa compreender a relação destas tecnologias com a educação a partir de duas perspectivas: por um lado, as tecnologias de dominação, onde a educação serve como sujeição e, por outro lado, as tecnologias de si, onde a educação pode ser pensada como um meio de resistência/liberdade e constituição de novas formas de existência.

 

FOUCAULT, Michel. Dits et Ecrits IV (1980-1988). Editions Gallimard: 1994. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/187478738/Foucault-Michel-Dits-Et-Ecrits-Tome-4-1980-1988>, acesso em: 04 fev. 2014.

 

Livros da Anpof

Artigo publicado: VANDRESEN, D.S. A Criação de Conceitos em uma Sociedade de Controle: análise da DCE/Filosofia-PR (2008). In: Marcelo Carvalho; Vinicius Figueiredo. (Org.). Filosofia contemporânea: Deleuze, Guattari e Foucault. 1ed.São Paulo: ANPOF, 2013, v. , p. 81-91.

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo discutir as implicações de se conceber a filosofia como criação de conceitos, concepção presente na opção teórico-metodológica das Diretrizes Curriculares de Filosofia no Estado do Paraná. Neste artigo, inicialmente, apresenta-se um resgate da concepção de filosofia deleuzo-guattariana, articulando a ideia de criação de conceitos com vários outros conceitos presentes na obra dos autores, para em seguida, confrontar com a proposta da diretriz de filosofia. Compreender a filosofia como criação de conceitos é pensá-la como atitude de resistência, onde os conceitos criados produzem um deslocamento dos planos existentes. É preciso pensar o ensino de filosofia como contribuição para a formação de um sujeito que se constituia si mesmo, em combate aos planos rígidos que nos constituem.

Fonte: http://www.anpof.org.br/spip.php?article252

Educação e Sociedade de Controle: análise das DCEs/PR

O artigo abaixo constitui uma reflexão, baseada nos conceitos de Biopolítica de Michel Foucault e Sociedade de Controle de Gilles Deleuze, sobre o poder que age sobre a educação, o que faz com que o currículo seja a todo momento reformulado, sempre revisto.

Analisa-se a proposta curricular disciplinar e o conceito de interdisciplinaridade presente nas DCEs/PR.

Travessias_Curriculo_DCEs

O tema da Educação entre 1975 a 1980

Situando o pensamento do autor

A produção intelectual de Michel Foucault é frequentemente caracterizada pela seguinte divisão: período da arqueologia, genealogia e ética. Não pretendo aqui, problematizar as polêmicas que envolvem tal classificação, apenas situar o leitor na temática que desenvolvo. A metodologia arqueológica, principais obras da década de 60, encarrega-se de analisar historicamente a constituição dos saberes, fazendo uma Ontologia histórica de nós mesmos em relação a verdade que nos constitui como sujeitos de conhecimento. Na análise genealógica, principais obras da década de 70, o olhar foucaultiano dirige-se para a questão do poder, esse trabalho marca uma Ontologia histórica de nós mesmos em relação ao poder que nos constitui como sujeitos de ação. Já no período da ética, com a publicação dos três volumes da História da Sexualidade, o projeto de Foucault problematiza a subjetividade moderna a partir da constituição de um sujeito ético, essa fase caracteriza-se como uma Estética de si mesmo, ou seja, como nos constituímos como sujeitos de ação moral. Com essa divisão, não defendo que esses períodos sejam estanques, pelo contrário, comungo da ideia de que elas se interrelacionam.

Período de 1975 a 1980

Esse período de produção intelectual marca um momento ímpar no pensamento de Foucault. A publicação recente de algumas de suas obras deste período tem despertado interesse pelos assuntos abordados. Dentre os textos mais significativos desenvolvidos no curso do Collège de France de 1975 a 1980, estão: “Em defesa da sociedade” (1975-76); “Segurança, Território, População” (1977-78); “Nascimento da biopolítica” (1978-79) e “Do governo dos vivos” (1979-80). A problemática desenvolvida pelo autor será em torno de como o poder regulamenta a vida, essa forma específica do poder se manifestar é denominada de biopoder. Em suas investigações mostra como o biopoder revela uma sociedade de controle baseada em dispositivos de segurança que governam uma população tornando-a útil para os interesses do mercado. A arte de governo do outro, de gerir sua vida, é denominado pelo autor como espaço da biopolítica. O governo biopolítica precisa conhecer, organizar e controlar a vida, para que ela seja útil aos interesses. Quanto mais conhecido, melhor para modificá-lo, transformá-lo, manejá-lo. A produção de saberes é imprescindível ao exercício do biopoder, isto porque, somente através de saberes que o poder se exerce positivamente.

Educação

Embora Foucault não tenha priorizado o tema da educação em sua reflexão sobre a biopolítica, esta enquanto prática de uma governamentalidade neoliberal não pode ser pensada sem a utilização de elementos estratégicos que por meio dela se faz agir. É preciso pensar a educação para além do espaço escolar, mas, também, como constituição de si através da relação saber-poder. Um exemplo disso está na relação da educação com o conceito de Capital Humano: neste conceito, o trabalho não é apenas força passiva, mas uma força ativa, ou seja, o trabalho deixa de ser força produtiva (no sentido de produzir coisas), mas uma força que produz a si mesmo.

“[…] um capital humano no curso da vida dos indivíduos, que se colocam todos os problemas e que novos tipos de análise são apresentados pelos neoliberais. Formar capital humano, formar portanto essas espécies de competência-máquina que vão produzir renda, ou melhor, que vão ser remuneradas por renda, quer dizer o quê? Quer dizer, é claro, fazer o que se chama de investimentos educacionais” (FOUCAULT, Nascimento da Biopolítica, 2008, p. 315).

Os investimentos educacionais que produzem o capital humano na economia neoliberal, vai além da prática do aprendizado escolar e profissional. Ele passa pelo tempo que os pais dedicam para a formação dos filhos, que não depende apenas do nível cultural dos pais, mas de suas condições econômicas, famílias mais abastadas dedicam mais qualidade no cuidado e vigilância para com seus filhos. Passa também pelos problemas de higiene pública e proteção a saúde. O cuidado médico com a saúde do indivíduo constitui um investimento no capital humano, conservando e utilizando-o pelo maior tempo possível. A educação, nesta governamentalidade neoliberal, passa a ser valorizada e investida pelo individuo, por empresas e Estado, com vista a melhorar este capital humano.

Saiba mais, lendo os artigos.

O CURRÍCULO EM UMA SOCIEDADE DE CONTROLE

Age sobre a educação um poder que faz com que ela seja sempre revista. Em relação ao currículo, por exemplo, além das diferentes teorias sobre o mesmo, surgem diversas maneiras de definir objetivos, propor seleção de conteúdos, metodologias de ensino e processos de avaliação. É preciso então refletir: que tipo de razão governamental age sobre a educação que faz com que a toda momento é preciso repensá-la? Na sociedade de controle o currículo tem como principal característica a flexibilidade. Na governamentalidade neoliberal vê-se a utilização da educação como elemento estratégico para sua legitimação: constituição de indivíduos sujeitados através da formação de seu capital humano, um sujeito competente, hábil e flexível.

Nesse sentido, Alfredo Veiga-Neto, no texto: Crise da Modernidade e inovações curriculares: da disciplina para o controle (Anais do XIV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino), afirma:

“Por isso, cada vez mais proliferam os discursos sobre ensino-aprendizagem, inventam-se metodologias de ensino, mudam-se os focos daquilo que pode ser mais importante na educação escolar, multiplicam-se processos de avaliação, classificam-se e ranqueiam-se instituições e pessoas. Tais proliferações e invenções, por sua vez, alimentam-se dos sistemas de controle […]. Forma‑se, assim, uma estrutura coesa e em constante movimento; uma estrutura em rede, da qual, presas compulsórias, ninguém escapa – alunos, professores, gestores” (VEIGA-NETO, 2008, p. 147).

A exigência de que a todo o momento haja reformulações no conteúdo, nos objetivos e na avaliação, evidencia um controle pedagógico para atender um modelo de sociedade vigente, que necessita de indivíduos flexíveis. Por exemplo, verifica-se na avaliação e, sobretudo pela recuperação, que é preciso a toda hora estar avaliando, pois a constituição de um indivíduo competente depende de constante controle.